31 January 2019

Quem faz as nossas roupas pt. II




foto de FashionRevolution.org

Who Made My Clothes foi o movimento criado na sequência da exposição de vários incidentes que ocorreram nas fábricas alugadas pelas grandes marcas de roupa em países de Terceiro Mundo.

O evento mais conhecido e horripilante foi o colapso do Rana Plaza, uma fábrica de oito andares no Bangladesh, que matou mais de 1130 trabalhadores e feriu milhares, em 2013.
Houve queixas que as paredes estavam com rachas gigantes, mas em vez da segurança no trabalho ser uma prioridade, os gestores das fábricas obrigaram as mulheres a irem trabalhar de qualquer maneira. A ganância falou mais alto do que os direitos dos milhares de trabalhadores que lá estavam. No dia seguinte, o edifício colapsa em apenas 90 segundos com mais de 2000 pessoas dentro. Foi considerado um homícidio industrial em massa.

Este foi um grande abrir de olhos no mundo para as condições inexistentes de trabalho numa das maiores fábricas alugada por marcas internacionais, como a Primark.

-- Parece que sai mais barato às marcas alugarem fábricas que já contratam os seus trabalhadores e já estão equipadas, do que ter uma própria em que controlam o trabalho e os direitos dos trabalhadores. Tanto dinheiro para serem uns forretas. --

As pessoas no mundo inteiro começaram a perguntar-se quem eram as pessoas por detrás de uma marca, de uma peça de roupa. Ficou claro que os trabalhadores (costureiras, tintureiras, etc) têm de ser valorizados e não devem pr a sua vida em risco para ganhar apenas uns trocos que não dão para viver.

Com o poder da internet, este hashtag criou um movimento poderoso. Nós, enquanto consumidores, não queremos mais estar às cegas e apoiar marcas que não querem saber do seu capital humano nem do capital natural, mas apenas do capital financeiro.

A REALIDADE DA PRODUÇÃO DE ROUPA
Terceiro Mundo: A Ásia é o maior exportador de roupa hoje em dia, produzindo mais de 32% da oferta mundial. Mas com o aumento da produção e custo de mão de obra, as grandes empresas de roupa optam por escolher países onde sabem que o custo do trabalho é menor, como o Bangladesh, Vietname, Paquistão e as Filipinas. Estes países não têm as matérias-primas necessárias para a produção de roupa, por isso, muitas vezes, são importados da China e da Índia.

Escravatura do Século XXI:
os gigantes das lojas a retalho colocam muitas das suas fábricas no Segundo e Terceiro Mundo de forma a aproveitarem-se das leis brandas no que toca a trabalho infantil, condições no local de trabalho e salários baixos.

Segundo a organização britânica Anti-Slavery international, uma pessoa é escrava quando:

  • é forçada a trabalhar por ameaças mentais ou físicas; 
  • é da propriedade ou é controlado por um "empregador"; 
  • é desumanizada, tratada como uma mercadoria ou, até mesmo, vendida e comprada como propriedade; 
  • é fisicamente detida ou tem restrições na sua liberdade.
Alguns exemplos reais desta escravatura do Século XXI:

- no Uzbequistão forçaram mais de um milhão de pessoas a colher algodão, sob ameaça de perderem o trabalho, em turnos de 15 a 40 dias seguidos, trabalhando durante longas horas e suportando condições de vida inconcebíveis, como a sobrelotação e acessos insuficientes a água potável e a instalações de higiene. (Uzbek German Forum Report 2015)

- No Sul da Índia, recrutam raparigas novas (umas até de 15 anos) em áreas rurais pobres e forçaram-nas a trabalhar longas horas por salários baixos. Elas vivem em albergues de condições mínimas dirigidos pelas empresas e raramente são autorizadas a sair desse complexo. (ICN & SOMO Report 2014)

- Na cidade dos Buenos Aires, está estimado que existem mais de 3000 fábricas clandestinas que ignoram os direitos dos trabalhadores consagrados na lei da Argentina. As peças que produzem não só acabam nas bancas de falsificadores no mercado negro, como também em prateleiras de marcas de moda respeitadas. (The Independent da Argentina, dez / 2015)

- Nas fábricas Turcas, existem crianças da Síria que cosem para sobreviver. Um rapaz de 9 anos ajuda o irmão de 13 e o pai a fazerem tops baratos que são depois vendidos na Europa. (Reuters.com, July 2016)

Sweatshops: nome pejorativo para fábricas em países menos desenvolvidos devido às condições pobres em que os trabalhadores são submetidos: pouca segurança nas infraestruturas, salários baixos, ameaças e mortes, trabalho forçado de horas extra, recusa de pausas, deduções de pagamento ilegais e retaliação por denunciar práticas ilegais.
No entanto, estas sweatshops são cruciais para o desenvolvimento económico destes países.
Muitas mulheres optam por trabalharem nestas fábricas para "fugir" ao trabalho alternativo: a agricultura. Milhões morrem neste sector, considerado um dos mais perigosos no mundo, devido a acidentes com maquinaria ou envenamento por pesticidas e outros químicos.

Salário Mínimo: o salário de muitos dos trabalhadores é distorcido quando as grandes marcas propõem um preço de produção ridiculamente baixo a uma fábrica. Por exemplo, a Nike chega-se a uma fábrica no Bangladesh e diz "quero produzir 30 mil tshirts por 12 cêntimos cada". O dono da fábrica faz e contas e vê que só por 1$ por tshirt é que consegue pagar aos seus trabalhadores de forma justa. A Nike recusa-se a pagar esse preço e ameaça ir falar com outra fábrica que lhe faça esse valor. O desta fábrica, com medo de perder uma grande encomenda, acaba por aceitar. Com este valor insultuoso, o dono da fábrica vê-se obrigado a baixar os salários, mas mantém o grande número de trabalhadores para entregar os produtos no prazo delineado pela marca.
Neste momento, o Bangladesh é o país onde o salário mínimo é o mais baixo, a $68 por mês. Na Indonésia está a $104, no Vietname a $107 e na Tailândia a $281 (o salário mínimo mais alto de países onde o vestuário é fabricado).
O que os trabalhadores exigem é um aumento do salário mínimo para 16,000 taka ($191 por mês) bem como uma estrutura que lhes governe os níveis de remuneração, garanta promoções e medidas de bem-estar.
O que um trabalhador ganha no Bangladesh, por hora, são 26 cêntimos, no entanto, para ter um estilo de vida razoável, teria de ganhar, pelo menos, 1.99$ por hora.
Sindicatos de Trabalho: organizações locais que defendem os direitos de trabalhadores, mas que acabam, muitas vezes, excrutinadas. Ao manifestarem o seu interesse em aumentar o valor do salário mínimo e exigir condições de trabalho seguras, muitos são violentemente agredidos, presos e, até mesmo, mortos.

Transparência: quando as marcas divulgam uma lista de fornecedores. Muitas apenas publicam informação básica — como um nome e um país, geralmente de uma fábrica principal que produz as maiores quantidades dessa marca —, enquanto que outras divulgam informações mais detalhadas como a morada das fábricas, número de trabalhadores, tipos de produtos que a fábrica faz, discriminação por género dos trabalhadores nas fábricas, e por aí.

Mais info em:

https://cleanclothes.org/news/2018/07/06/full-support-for-bangladeshi-garment-workers2019-demands-on-minimum-wage

https://www.canadianbusiness.com/companies-and-industries/bangladesh-workers-two-bucks-more-for-a-t-shirt-to-help-them/

https://www.ilo.org/safework/areasofwork/hazardous-work/WCMS_110188/lang--en/index.htm

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